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Confraria Vermelha Livraria de Mulheres: O “quarto próprio” de Virginia Woolf

Confraria Vermelha Livraria de Mulheres: O “quarto próprio” de Virginia Woolf

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O “quarto próprio” de Virgínia Woolf

É um quarto próprio porque estão escritoras e trabalhos literários que às vezes não têm “quartos próprios” noutras livrarias

Conheçam melhor este “quarto próprio”,  muito especial , criado por Aida Suàrez Gutierrez . Entrega, paixão e perseverança é o que podemos encontrar neste projeto que se desdobra em atividades, entre estas a exibição de filmes, a realização de workshops e claro os livros, sempre os livros! Confere as palavras da mentora desta livraria de mulheres.

Por Irene Mónica Leite

Fotos/Cátia Cruz

1-Como e quando nasceu este projeto?

Para ser sincera, eu acho que ele já nasceu comigo. Porque quando olhas para trás, vais percebendo ao longo da vida que seria uma livraria… Entretanto este projeto fica meio adormecido. Depois entre 2009/2010, é quando a ideia começa a ganhar mais forma dentro da cabeça. E é quando conheço também outras livrarias de mulheres. Nos últimos meses de 2014 começo a pensar de forma mais direcionada à prática , isto é, a pensar nas possibilidades de como vir a concretizar. Entretanto nascem as duas campanhas de crowdfunding

2.-Foi complexo o processo de implementação após as campanhas de crowdfunding?

O conceito livraria de mulheres já existia….Mas a maneira de o tornar possível através de uma campanha de crowdfunding…tornando exequível , envolvendo o trabalho de outras mulheres como o da Marta Carvalho , que fez o logótipo e toda a imagem da livraria. O tentar fazer um negócio, que não deixa de o ser apesar de ter um caráter social e cultural. Tentar cumprir este projeto com ferramentas que não são as convencionais isso torna a questão, não sei, complexa, mas pelo menos torna o processo…

3-Um desafio…

Exato. E não tens a quem pedir uma ideia. Tu estás a fazer as coisas de outro jeito. Portanto, todos os dias aprendes algo novo. Vais tentando reinventar. , redefinir. E às vezes até é difícil explicar por palavras. Precisamente porque ainda não existem palavras para tal novidade. Se isso é ser complexo, diria que sim. Se não é, resposta negativa.

4- Exato. Já está intrínseco. Este projeto ultrapassa a livraria? Também exibem filmes….

Sim. Na minha cabeça uma livraria não pode ser um espaço museu onde tu quase nem tocas nos livros . Ou que seja para um determinado tipo de pessoas. Ou seja, uma livraria e uma livraria de mulheres, especialmente, é um espaço interdisciplinar , é um espaço aberto. Um espaço que está em constante movimento. Eu brinco muito com a questão do “Quarto próprio” que a Virgínia Woolf mencionava num dos seus ensaios. É, na realidade um “quarto próprio” para quem queira desenvolver projetos. É um quarto próprio” porque estão escritoras e trabalhos literários que às vezes não têm “quartos próprios” noutras livrarias. Para mim uma livraria também é isso. Um ,livro fala de coisas. E essas coisas têm que estar aqui. Esses livros falam de escritoras, mulheres da história , falam de filmes….Essas coisas também têm que estar cá. E essas atividades complementam toda essa criação literária. E as atividades que existem na livraria, muitas delas vão ao encontro do livro ou vêm do livro.

5-Partem sempre do livro?

Não sempre. Mas nalgum momento do caminho tudo se encontra. Porque muitos dos livros que estão nas estantes da livraria têm um contexto. Existia vida. E essa vida materializa-se nesses eventos.

6-Vocês também estimulam bastante a reflexão critica.

Das pessoas que aparecerem. Acho que é essencial para que um ser humano seja livre. Nós termos capacidade de análise, reflexão de critica e de auto-critica. Acho que é essencial para a liberdade individual e coletiva. E criar assim o empoderamento das mulheres e dos seres humanos.

7- Portanto aqui de autores, apenas mulheres.

99 %. Há uma estante que em principio ficará , pelo menos é esse o meu objetivo, pronta em outubro que é quando a livraria completa um ano. Será uma estante só de autores, homens. Mas a seleção está a ser feita aos poucos. Exatamente como todas as outras estantes. Não é pelo facto de seres mulher, que faz com que haja igualdade de género. Mesmo os livros de autoria feminina são selecionados. Há um critério. É uma livraria de mulheres que tem como principal objetivo a divulgação da literatura e da ficção feita por mulheres. Mas depois tem outros princípios como a desconstrução de estereótipos. Não ajudar a promover através das expressões artísticas conceitos que são discriminatórios que são opressivos.

8- Qual é o grande objetivo deste projeto?

São os livros. Há coisa melhor neste mundo do que um livro? Acima de tudo é criar esse “quarto próprio” que falava a Virgínia Woolf para as escritoras, para as leitoras. Para as mulheres que precisam de um espaço.

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