Em análise : O Mentalista (2008-2015) [atenção aos Spoilers]
“Tiger, Tiger” [William Blake]….Diz-vos alguma coisa? Para quem já assistiu à serie “O Mentalista” diz… e muito. Remete-nos para um dos serial killers mais procurados de sempre: Red John, ancorado numa teia viciada de poder, culto e influências, sob o olhar atento e camaradagem entre policias corruptos.
Texto/Irene Mónica Leite
Esta serie, criada por Bruno Heller, ultrapassa o único objetivo de resolver os crimes misteriosos de casa episódio, situação mais evidente em aclamadas series como “Lei & ordem”, ou “Casos Arquivados”, “Investigação Criminal” e mesmo o “CSI”.
Aí reside o caráter diferenciador desta serie: como ao longo de cada temporada e episódio, para além de se concentrar em resolver os mistérios dos crimes, há sempre tempo e espaço de desenvolver a evolução das personagens principais, compostas pela equipa de Teresa Lisbon: Patrick Jane, o consultor (ex “vidente burlão” – palavras do próprio ao longo da serie) concentrado em encontrar o assassino da sua familia (Red John), Wayne e Van Pelt, os investigadores da equipa, apaixonados desde o inicio e cujas limitações legais impedem a formalização do romance, e Cho, o investigador mais neutro em expressões de sempre!
Vénia para o ator Malcolm McDowell, que ficou sempre indelevelmente marcado pela personagem psicótica em “Laranja Mecânica” (1971), o clássico de Stanley Kubrick que consagra um delinquente à base de leite e Bethoven. Todo esse histórico de interpretação caiu que nem uma luva para a construção psiquica desconcertante de Bret Stiles, o guru de um culto, “Visualise”, ora ajudante de Jane, ora inimigo do mesmo…
A “Visualise” é um culto, como muitos outros que existem no mundo inteiro, que muitas vezes se traduz em tráfico de influências, mesmo em altas patentes (como a própria Policia de Investigação Criminal).
Bertram (um dos vilões suspeitos e o meu favorito na trama para esse registo), é um misto de vilão com humor irónico. Desconfia-se sempre dele, mas também se consegue rir das suas piadas e postura, ora repulsiva, ora empática. Desconcertante, hein?
Mas a cena em que Jane se depara finalmente com o Red John, aparentemente banal, apresenta vários contornos filosóficos, sempre com base nos detalhes. O duelo entre os dois representa a velha disputa entre o bem e o mal, numa evidente guerra mental, até diria disputa de egos. Mas atenção que o sociopata , egoísta e depravado é apenas o Red John.
Quanto a um retorno desta serie, acaba sempre por ser possível, não só pelos pedidos constantes dos fãs pela internet, e o sucesso da produção nas plataformas de streaming até hoje. E a nível da história , a Associação Blake ou mesmo a Visualise bem poderá continuar em ação, desejando vingança pelo “herói” perdido.
Há coisas que devem ser bem ponderadas. Será que um retorno desta serie , tão querida pelos fãs, poderia danificar o culto à volta da mesma?
Até lá, podem sempre assistir à sua versão em russo….
Inevitáveis Comparações
Tanto O Vincent D`Onofrio (Lei & Ordem – Intenções Criminosas) como o Simon Baker (O Mentalista) são bastante carismáticos, cada um à sua maneira. O que os une? Os métodos pouco ortodoxos para descortinar os casos bicudos que vão aparecendo e que acabam (quase) sempre bem sucedidos.
Mas o nosso amigo Jane (Simon Baker) na serie “O Mentalista” acaba por gerar maior empatia com a audiência, pois assistimos a cada epsiódio à sua evolução e despedida definitiva da sua veia “charlatão”, usando-a apenas (a observação minuciosa) para descobrir o verdadeiro assassino, seja por métodos bizarros ou perguntas directas, cuja expressão corporal do suspeito pode levantar fraquezas. E acaba mesmo por encontrar Red John [Spoiler Alert].
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