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Entre o Expressionismo e o Synthpop: A Reinvenção de Metrópolis, clássico de Fritz Lang

Entre o Expressionismo e o Synthpop: A Reinvenção de Metrópolis, clássico de Fritz Lang

Metrópolis é uma obra-prima do expressionismo alemão e um marco incontornável do cinema de ficção científica.

Texto/Irene Mónica Leite

Foto/Flickr

A direção de arte, com os seus cenários monumentais e arquitetura futurista, estabelece uma estética visual poderosa que influenciaria o género por décadas. A narrativa, centrada no conflito de classes entre os “céus” das elites e os “infernos” da classe trabalhadora, é uma alegoria ( como a da caverna, entre o mundo sensivel e inteligivel que Platão tanto dissecou) clara e ainda relevante sobre desigualdade social, industrialização desumana e alienação do indivíduo. Como dois mundos tão distintos podem coexistir?

Fritz Lang constrói o filme com um rigor estético e simbólico impressionante. A personagem de Maria, por exemplo, atua quase como uma figura messiânica, enquanto a cidade de Metrópolis é praticamente um personagem por si só, com vida própria. A montagem é dinâmica e os efeitos especiais inovadores para a época.

A versão de Giorgio Moroder, lançada em 1984, é uma restauração radical do original, mas também uma reinterpretação ousada. Ele colore digitalmente cenas, acelera a edição em alguns momentos e, o mais notável, adiciona uma banda sonora pop/rock dos anos 80 com artistas como Freddie Mercury, Pat Benatar ou Bonnie Tyler.

Moroder trouxe nomes de peso e criou um ambiente muito diferente do original. No lugar da música orquestral típica de filmes mudos, temos sintetizadores, vocais potentes e guitarras elétricas. É um choque estético — mas a meu ver funciona. A canção “Love Kills” com Freddie Mercury, por exemplo, casa bem com a intensidade emocional de certas cenas.

A versão de 1984 torna-se um experimento audacioso do que uma restauração fiel. Para quem já conhece o filme, pode ser curiosa, para quem não conhece, pode ser confusa.

Moroder faz uma coisa que hoje seria comum: um remix artístico. Ele trata Metrópolis quase como um “sample” de um clássico, adaptando-o aos códigos estéticos da sua época. Isso abre uma discussão interessante sobre o papel da curadoria e da reinterpretação cultural: até onde vai a liberdade artística ao mexer em obras-primas?

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