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Fomos ver: “Banksy, Dismaland and Others”

Fomos ver: “Banksy, Dismaland and Others”

“Banksy, Dismaland and Others” – Photographs of Barry Cawston é uma mostra poderosa que nos leva numa viagem por este trabalho fenomenal, de um artista que há mais de 25 anos usa a sua arte para questionar os valores da sociedade e que chegou agora, e pela primeira vez, a Portugal.

Texto/Irene Mónica Leite

Fotos/Vitor Costa

A mostra que conta com 44 fotografias de grande dimensão (240 x 188), integra imagens do projeto Dismaland (2015), o conhecido parque temático criado por Banksy, numa clara sátira aos parques da Disney e um dos seus trabalhos mais insólitos. Para além destas, a exposição irá integrar ainda outras obras identificativas do artista como o “Walled Off Hotel” (2017) ou “Flower Thrower” (2005), um dos seus trabalhos mais conhecidos.

Há,ainda espaço para artistas nacionais. Falamos com dois, (Gonçalo Mar e NOMEN)  que nos concederam um importante testemunho.

Como funciona o processo de criação?

Gonçalo Mar

Gonçalo Mar
Na verdade, para mim, o processo é sempre o mais importante e interessante. Sinto que o trabalho que se produz durante essa construção é que faz com que o artista evolua na sua linha de trabalhos, o seu corpo de obra.
É quando passas pela fase de experimentação e descobres fórmulas interessantes de trabalho, leva-te à loucura, mas quando encontras o produto final é de uma satisfação incrível.

NOMEN

Nomen
Como basicamente faço letras de graffiti e rostos femininos o meu processo baseia-se em arranjar maneira que esses elementos que pinto, se adequem ao espaço e à minha maneira de pré-visualizar o efeito que dará à posteriori.

Que técnicas aplica?
G: Tenho um leque interessante de escolhas que vai desde as latas de spray ao “vulgar ” lápis de carvão. Depende do que pretendo fazer e do suporte em que trabalho

N: Só uso spray e alguns casos raros pincéis, mas diria que 99% do meu trabalho é realizado a spray sem moldes, sem projectores, ou qualquer outra técnica facilitista de produção final.

Quais as cores predominantes dos trabalhos? A cor é crucial na mensagem a transmitir?
G: Sem dúvida, a cor é fundamental para tudo, desde da mensagem à própria composição da peça, tanto a nível cromático como a nível de sentimentos, porque acredito que as cores falam connosco e transmitem nos emoções. Por exemplo se nós pintarmos um tecto de uma sala de preto, temos uma sensação de que essa divisão é pequena em altura e desconfortável.

N: As cores que normalmente utilizo são os laranjas vermelhos e amarelos, por forma a darem um ar mais quente e poderoso ao desenho final, e isso sim para mim é crucial.

Qual a mensagem(s) que pretende transmitir nos seus trabalhos?
G: Em grande parte do meu trabalho, eu procuro passar uma mensagem bastante positiva onde trabalho as cores para criar essa sensação e depois procuro uma desconstrução da nossa realidade onde proponho uma viagem para quem olha.
O meu estilo de trabalho assenta muito numa linguagem figurativa surrealista, onde trabalho temas mais fáceis a nível de percepção visual.

N: O graffiti assenta num espalhar de um nome normalmente de um artista  e espalhá-lo pela cidade e isso é uma coisa que tento sempre fazer e que não abdico por isso a minha mensagem assenta sempre em espalhar o meu nome.

Qual é a temática de eleição?
G: Neste momento, porque os artistas têm várias fases, estou a passar por uma procura mais direccionada para a construção de faces conhecidas de pessoas que de uma forma ou de outra estão ligadas à sustentabilidade ambiental do nosso planeta. Chamar a atenção a uma causa que nos pode prejudicar a todos, caso não tomemos as devidas precauções ou não alertarmos   a quem diz respeito por direito.

N: A temática da eleição como disse anteriormente são as letras e os rostos femininos.

Acha que é dado o devido valor à arte urbana em Portugal?
G: Acho que ainda estamos a construir esse valor, ainda há muito trabalho por fazer.
Já estamos com uma boa posição na hierarquia dos movimentos artísticos que fizeram história. Julgo que estamos perante O grande movimento artístico do secXXI e que falta o carimbo consensual da grande massa  para pertencermos aos livros de história de arte.

N:Acho que o valor que dão é meramente contemplativo. As pessoas de facto gostam e adoram, e existem já vários artistas portugueses bastante valorizados em Portugal e no mundo, por isso acho que estamos no bom caminho

O grafitti também pode ser uma importante arma política?
G: Sim. Temos muitos artistas que usam a rua para expressar a sua ideologia política como acontecia nos anos 60/70 em Portugal com os murais políticos. Eu prefiro usar esse poder que o Graffiti/Streetart tem para enviar uma mensagem de esperança, força e cor. Já que temos problemas pessoais que nos atrapalham as ideias, prefiro proporcionar uma experiência agradável por quem passa pelas minhas criações.

N: Sim pode, eu inclusive já fiz bastantes murais políticos.

Balanço da carreira
G: Neste momento comparo o balanço a uma montanha russa de emoções onde a sobrevivência está sempre presente.

N:Após estes 30 anos de graffiti, estou muito orgulhoso da carreira que realizei, das boas histórias que guardo para contar, episódios com a polícia, momentos revolucionários com o meu graffiti político de 2012 até 2015, o espalhar do nome “Nomen” por todo Portugal e Mundo,  exposições em museus e galerias, fama pública e carinho do público.

Planos Futuros
G: Continuar a progredir no meu trabalho em tela, nunca largar as ruas e trabalho no sentido em conquistar cada vez mais cidades com e pela arte.

N: Viver mais e melhor da minha arte, chegar a mais pessoas.

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