À Conversa com…Sandra Correia
“O fado é algo que se sente”
Vive e respira fado. Algo que vem desde cedo, já de dentro.Porque o fado não se aprende. É algo emocional, profundamente sentido, conta-nos Sandra Correia, cuja voz conquista de imediato. E com Amália na voz…
Texto/Irene Mónica Leite
Vem de uma família que respira música. Portanto, as melodias sempre estiveram presentes. Mas como e quando nasceu a paixão pelo fado?
Eu era bastante jovem, ainda uma criança. Ouvi naquela altura uma voz fantástica, extraordinária que me tocou. Não foi só a mim. Estende-se um pouco por todo o mundo… Refiro-me à voz de Amália Rodrigues.Parei naquele momento e disse à minha mãe: ‘eu quero ser como aquela senhora’.
A Amália Rodrigues é incomparável. É um caso único no mundo inteiro, cuja música se encontra ainda muito viva.
Foi como se reconhecesse aquela alma. Curiosamente tenho uma afilhada, da mesma idade que eu naquela altura e que me pede para ouvir Amália Rodrigues… Perguntei-lhe o que ela queria ser quando fosse grande . Respondeu-me que queria ser fadista.
O fado é algo que se aprende ou que se sente?
É algo que se sente. Podemos aprender, naturalmente, os poemas. Podemos aprender as melodias.
Mas para transmitir aquilo que o fado pede não é algo que se aprende. É algo que acontece. É algo muito emocional.
O que a seu ver tem evoluído no fado nos últimos anos?
Estou muito feliz. Aqui há uns dias deparei-me com miúdos que vi a começar no fado. Miúdos, alguns que já se formaram. Parei a ouvir dois fadistas : Tiago Correia e a Beatriz Felicio. Naquela noite senti que o fado está muito bem entregue. Há uma nova geração, muito nova, até aos 22/23 anos que está nisto em força. É mesmo paixão. É mais forte do que eles.
No seu percurso esteve ligada ao Fado in Porto.Como descreve essa experiência?
Basicamente havia dois fadistas e dois instrumentistas: guitarra portuguesa e viola clássica. E falávamos sobre a história do fado.
Eram pessoas de todo o mundo e muitas delas foi o primeiro contacto com o fado. Foi muito gratificante.
Tocar numa casa de fados difere muito da experiência de tocar perante uma sala de espectáculos como o Coliseu do Porto?
Cantar numa casa de fados é, naturalmente mais intimista. Mas o sentimento não difere.
De todos os espetáculos que fez em Portugal e no estrangeiro houve algum que a tenha tocado especialmente?
Tantos (risos). Vou referir apenas um , como exemplo. Fui a Marrocos. Não tinha nenhuma informação sobre o que se ia passar lá. Fui bem recebida.
Mas não tinha grandes expectativas do que ia acontecer. Ia completamente de alma aberta. O espaço tinha capacidade para 300 pessoas. Resultado: Foi um concerto extraordinário. Levei um técnico de som.
O outro técnico de som, que também era português veio ter comigo e admitiu: ‘eu não gosto de fado. Mas chorei tanto neste concerto, que até chego a admitir que gosto de fado’.
Como foi a receptividade do público?
Extraordinária. Nesse concerto vi muitas crianças. As crianças são puras . No final do concerto faziam fila para vir ter comigo. Foi muito importante aquele concerto para mim.
Começou a carreira em 1989.Que balanço estabelece até ao momento da sua carreira?
Foi muitas vezes difícil entender se era realmente isto que eu queria. Já tive, inclusive , outras profissões paralelas, nas quais também era muito feliz. Mas, nesses momentos de dúvida chegava à conclusão: é impossível viver sem a música. Os altos e baixos fazem parte, como em qualquer carreira. É um balanço muito positivo que estabeleço.
Vai dar concertos brevemente. Serão especiais , certamente. O que pode adiantar?
Um a destacar será no Tivoli BBVA, em Lisboa no dia 17 de abril. É muito importante dar a conhecer às pessoas o meu trajeto, com toda a verdade e lealdade. Todos terão a oportunidade de ouvir uma autobiografia contada. Vou contar uma história de vida através da música. Este concerto marca o inicio destes festejos. Tenho muito prazer em assinalar este momento.
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