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Experiências sonoras imersivas para pessoas com deficiências auditivas têm um novo “posto de escuta” no Porto

Experiências sonoras imersivas para pessoas com deficiências auditivas têm um novo “posto de escuta” no Porto

Habituámo-nos desde o berço a ouvir os sons e esquecemo-nos que eles têm mais do que uma dimensão. Os smartphones vieram demonstrar-nos essa realidade agora e a qualquer instante, através da tecnologia háptica (sim, há toda uma ciência por trás daqueles impulsos que sentimos).Que lembra que o som pode também transmitir pressão, textura, vibração e outras sensações biológicas relacionadas com o toque. E porque a experiência consegue mesmo ser imersiva, com a ajuda da ciência acústica e uma pitada de arte técnica, a Eufonia Sound / Art + Science aliou-se ao M.Ou.Co. para fazer acontecer o SUB_BAR Experience.

De acordo com nota enviada às redações, o evento decorre neste espaço multicultural, que também é hotel (e veste muitas outras capas), a 5 de junho próximo. Sobretudo a pensar nas pessoas com surdez ou qualquer deficiência auditiva (de qualquer nível) e, já agora, nos seus familiares e amigos sem quaisquer limitações ou dificuldades de escuta. É que o som não é só música para os ouvidos: consegue igualar as diferenças de todos num denominador comum…

A Eufonia Sound / Art + Science espelha uma plataforma interdisciplinar que agrega artistas, cientistas e investigadores de todo o mundo que partilham esta visão comum sobre o som. A proposta em mãos, modelada por especialistas internacionais, ocupará o M.Ou.Co. distribuída por três sessões (16h00, 18h00 e 20h00) no primeiro domingo do próximo mês e convida todas as pessoas a participar, em igualdade de circunstâncias, numa espécie de recreio de eleição para as subfrequências.

Com o apoio da Direção-geral das Artes (DGArtes), o objetivo do projeto SUB_BAR Experience é nobre – promover a inclusão – e pode ser inclusivamente revelador para muitas pessoas. É que as muito baixas frequências conseguem atravessar solos, paredes e água, praticamente sem sofrer perdas de sinal ou interferências…

Um evento sem fronteiras para mudar perceções

“Queremos que as pessoas sintam a música de uma maneira diferente, inovadora, e de uma forma que as aproxime”, explica Sofia Miró, responsável pela programação cultural do M.Ou.Co..

A diretora não tem dúvidas que a performance ao vivo providenciará uma “experiência sonora e musical imersiva que ativará todo o corpo”. Graças à utilização de frequências sonoras muito baixas e à instalação de um sistema de subwoofer quadrifónico e vários elementos tácteis montados na sala de espetáculos.

Refira-se que o centro da experiência desdobra-se numa componente visual e oito composições musicais, de sete minutos cada. Haverá ainda uma instalação que funcionará através de dispositivos hápticos. Noutra zona, um jogo de cartas convidará as pessoas a tatear várias superfícies vibratórias, em outra ainda, uma cadeira estremecerá consoante o número de mãos num controlador e, por fim, haverá também um trabalho de “masya”, um jovem artista de Lisboa, que explora a disciplina háptica.

“Ignorado pelas práticas composicionais, o tato, um dos nossos sentidos, é o lar das nossas memórias mais profundas e das reações mais instintivas, e fala uma linguagem de dor e prazer, trauma e conforto, Verão e Inverno. O que acontece quando estimulamos este reduto com música?”, questionam os autores do SUB_BAR.

“Convidámos artistas auditivos, deficientes auditivos e surdos a criar obras originais utilizando apenas subfrequências, mais especificamente, frequências entre 30hz e 150hz. As suas composições serão tocadas através de um poderoso sistema de subwoofer, transformando o M.Ou.Co. numa sala de pressão musical, para uma experiência auditiva única que ativa todo o corpo”, concretizam.

Byetone, o peso pesado da música eletrónica e fundador do renomado selo Raster Noton, o mestre Deaf Rave, o DJ Troi Lee e a especialista em subfrequências Stefanie Egedy, juntamente com outros artistas internacionais e portugueses das áreas do som – e do silêncio – são alguns dos nomes que se associaram ao projeto.

Inspirado pela beleza da partilha de conhecimento, sem conhecer fronteiras geográficas, académicas ou culturais, o projeto germina diversidade, multidisciplinariedade e cruza métodos artísticos e científicos com ideias inovadoras.

A meta maior é feita daquele pragmatismo que tenta aparar as sebes da criatividade: espevitar os sentidos e despertar a curiosidade de todos os que abraçam a experiência. Para quê? Simples: mudar perceções e conhecimentos. E não é coisa pouca.

O SUB_BAR estreou-se em Berlim, em dezembro último, e anda a mudar perceções noutras línguas. Para quem o quiser escutar no Porto, o encontro é no M.Ou.Co, a 5 de junho, das 16 às 21h30. Depois do SUB_BAR Experience sentiremos o som de uma outra forma.

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