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“Obra Poética II” de Artur do Cruzeiro Seixas

“Obra Poética II” de Artur do Cruzeiro Seixas

Em 2020, ano em que se celebraria o seu centésimo aniversário, a coleção elogio da sombra, da Porto Editora, iniciou a publicação da Obra Poética completa de Artur do Cruzeiro Seixas. O primeiro volume foi lançado em junho e o segundo volume chega às livrarias no dia 3 de dezembro, dia do seu aniversário.

“Diz Cruzeiro Seixas que o que pintou e escreveu são apenas fragmentos; São fragmentos o que o meu dia a dia me dá; fragmentos de amor, fragmentos de génio, fragmentos de sonho etc, etc…, neste fragmento de país”.

Por aqui seguimos, cegos pela intensidade da luz. “Creio que é Jean Paulhan que refere ‘o furor poético do surrealismo’, e creio eu que é esse furor que passa nesta poesia como passa nessa África afinal ainda subjugada”, escreve a organizadora do volume, Isabel Meyrelles, em nota enviada às redações.

Decano da arte portuguesa, Artur do Cruzeiro Seixas é um dos nomes incontornáveis do movimento surrealista, do qual foi um dos principais precursores em Portugal. Com um vasto trabalho nas artes plásticas e visuais, foi também um poeta prolífico.

“Penso em como os génios sempre independem do tempo e se definem pelo incrível”, escreveu Valter Hugo Mãe, curador da coleção.

“Nesta vasta obra se encontra um surrealismo pleno, a relação mais indomável que ao espírito humano revela sobretudo o que tem de inexplicável e, ainda assim, profundamente necessário”.

Tenho as mãos sujas de poesia
o caminho lacerado por certas aves,
o corpo em farrapos.

Com este absorto entardecer
por sobre os ombros
olho o espaço.

Aberta a paisagem inquieta
espera
inocente e inanimada.

Estamos frente a frente
como duas sombras inúteis
caídas ao lado da estrada.

Luanda 55

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