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Era uma Vez com Adolfo Simões Müller

Era uma Vez com Adolfo Simões Müller

Adolfo Simões Müller foi um escritor e jornalista português, homem que nasceu e viveu para a literatura infanto-juvenil , além de merecer o título de maior divulgador de banda desenhada.
Chegou a frequentar a Faculdade de Medicina, mas acabou por abandonar o curso.

Texto/Irene Mónica Leite

Originalmente publicada para a revista “A Casa do João”


Entre outras obras, adaptou para a juventude “Os Lusíadas” (1980), “A Pergrinação” (1980), “A Morgadinha dos Canaviais” (1982) e “As Pupilas do Senhor Reitor” (1984).

Sabias que Adolfo Simões Müller foi fortemente influenciado e abençoado por uma senhora contadora de histórias, que lhe marcou a infância? O seu nome era D. Sérgia. Mas vamos aos versos que sairam num dos primeiros números da publicação “O Papagaio”, o primeiro jornal que fundou e dirigiu.

Era uma vez
Quando eu era pequenino
Gostava de ouvir contar
Histórias de princesinhas
Encantadas ao luar
Havia então lá em casa
Uma criada velhinha:
A Sérgia contava histórias
– e que graça ela tinha!
Lendas de reis e de fadas
Inda me encheis a lembrança!
Que saudades de vós tenho;
Ó meus contos de criança !
“Era uma vez…” As histórias
Começavam sempre assim;
E eu, então, sem me mexer;
Ouvia-as até ao fim
Lembro-me ainda tão bem!
Os irmãos à minha beira,
Calados! E a boa Sérgia
Contava desta maneira:
“Era uma vez…” E, depois,
Olhos fitos nos meus lábios ,
Ouvia contos sem conta
De gigantes e de sábios…
“Era uma vez…” E, por fim ,
A voz da Sérgia parava…
E assim como eu te contei
Era como ela contava
Ai! Que saudade, que pena,
Que nos meus olhos tu vês!
Eu sentava-me e ela , então,
Começava: – “Era uma vez…”
Mas já a Sérgia , nós sentados,
contava:
“Era uma vez….”

Uma história de sucessos para a pequenada

Chega então o curso de Medicina da Escola Politécnica de Lisboa, que o jovem Adolfo passa a frequentar, mas que não o entusiasma.

é por esta altura que é obrigado a leccionar aos 18 anos nas oficinas de S.josé em Lisboa. De acordo com uma entrevista que concedeu em 1987 a Luis Almeida Martins para o jornal de Letras, “as posses da minha familia não eram grandes”.


Sabias que Müller introduziu nas suas aulas métodos inovadores e motivadores para os alunos , como por exemplo, ensinou História de Portugal “…recorrendo à narração de episódios como se fossem histórias maravilhosas.

Esta aventura no ensino revela-se assim, decisiva. É aqui que o ainda jovem Adolfo descobre a vocação de comunicar com os jovens e a facilidade de lhes transmitir conhecimentos, inventando processos de os entreter.

Refira-se que todo o seu caminho jornalistico representou um progresso e desenvolvimento para a Literatura Infantil portuguesa, não só pelas suas ideias inovadoras mas, também por ter tido um papel ativo na revelação de novos autores nesta vertente da literatura portuguesa , pois nos seus jornais sempre colaboram nomes sonantes da literatura à altura e outros que mais tarde se tornariam sonantes e, sempre alicerçou o seu trabalho jornalistico como mais um contributo e estimulo ao público infantil para que o gosto da leitura fosse ganhando raizes entre os mais novos.

É a partir de 1931 que Müller se dedica à escrita de livros para crianças. Desde “Meu Portugal, meu Gigante, Jesus Pequenino (1934) e Caixinha de Brinquedos (1937).

Com cerca de 30 anos , é convidado a trabalhar no jornal “Novidades” como redactor. Ao deixar o Novidades , torna-se redactor no Secretariado da Propaganda Nacional , onde colabora com António Ferro.


No ano de 1935, o director da Renascença, Lopes da Cruz convida-o para empreender o jornal “O Papagaio”.

Uma das facetas de Simões Müller n`o Papagaio é o papel de adaptador de muitos clássicos da literatura universal , nunca deixando de alertar os pequenos leitores para a necessidade de ler o texto original…

A adaptação das obras para o contexto português à época

Outra caracteristica de Müller é a de aportuguesar o que vinha de fora. As personagens de Hergé (Tim Tim) não foram excecpção .O Tintin ou apenas Tim-Tim , o seu cão Milou passou a chamar-se Rom- Rom, enquanto o capitão Haddock era conhecido por Capitão Rosa por cá e o professor Tournesol por cá dava pelo nome de professor Pintadinho.

No que diz respeito ao aportuguesamento do Tintin e os seus companheiros , Adolfo Simões não se limitou a apenas mudar os nomes! Tintin no Congo passa a ser Tim-Tim em Angola, havendo ainda cenas adaptadas à realidade portuguesa.

Nesta aventura, publicada do dia 13 de abril a 14 de dezembro de 1939, um barco navega ao largo da Ilha de São Tomé, Tim Tim diz ao seu fiel companheiro Rom-Rom: “Estamos diante da Ilha de São Tomé que é, como sabes, uma rica possessão portuguesa”. O que acontece é que na versão original Tintin navega , não ao largo da antiga colónia lusa , mas sim ao longo das ilhas Canárias. Quando, mais tarde, Tim Tim chega a Angola , ele é oficialmente repórter de “O Papagaio”.

Há mais pormenores a destacar: em Tim Tim na América do Norte, aparece um camião carregado de pipas de vinho do Porto, mascaradas de bidões de gasolina. A bebida nacional substitui, desta maneira , na versão original, o whisky contrabandeado.

No desafio seguinte, a publicação “Diabrete” . pode-se dizer que também se trata de um marco no panorama da imprensa infanto-juvenil.

Se “O Papagaio” deu a conhecer Tintim, o “Diabrete” introduziu em Portugal outras personagens bem famosas da banda desenhada como Astérix e Lucky Luke .

No dia 5 de janeiro de 1952 é publicada a primeira de “O Templo do Sol”, agora na publicação “Cavaleiro Andante”.

Esta é a aventura que se segue. Na prática, o projeto editorial era o mesmo, ainda que adaptado aos novos tempos.

A grande marca do Cavaleiro Andante foi ter dado continuidade ao trabalho de Hérgé, mas também introduziu em Portugal nomes como Franco Caprioli, Edgar P.Jacobs, Boscarato, Morris e Jean Graton, entre outros.

Um senhor, cuja paixão de contar histórias para os mais pequenos preencheu uma vida de sucessos. A recordar com saudade e gratidão!

 

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